Por Fernanda Costa
Afrofuturismo e ancestralidade: quais as possibilidades para o nosso povo?
A história da população negra no Brasil, especialmente aquela retratada nos livros escolares, geralmente começa com a escravidão e a negação da identidade. Mulheres, homens e crianças foram brutalmente trazidos para um continente desconhecido. Durante essas viagens insalubres e perigosas, muitos morreram. Por outro lado, aqueles que conseguiram chegar perderam nome, sobrenome, origem e família. Para agravar ainda mais, os escravocratas frequentemente separavam pessoas que compartilhavam a mesma língua ou cultura, promovendo, assim, um apagamento intencional da ancestralidade.
A resistência como alternativa
Diante da violência, a resistência surgiu como alternativa. Nesse contexto, o inconsciente coletivo naturalmente trouxe figuras de heróis, heroínas, reis, rainhas e divindades de pele preta para o imaginário dos negros e negras nascidos brasileiros. Como eles não tinham para onde voltar e, tanto socialmente quanto legalmente, não eram considerados cidadãos, recriar um passado nunca vivido, portanto, oferecia conforto e esperança para um futuro mais justo.
A importância da memória ancestral
Recriar o passado nunca vivenciado tornou-se um caminho para construir um futuro mais igualitário, onde as vidas negras realmente importam. O grito dos Palmares ainda ressoa na reconstrução da memória histórica de pretos e pretas. Segundo o arte-educador alagoano Cláudio Antônio, professor da Escola de Dança da Universidade Federal de Alagoas, não há avanços sem olhar para o passado. Ele observa que “a arte oferece a possibilidade de escolher qual história queremos contar.”
Reconhecimento e empoderamento através da arte
Antônio explica que a memória ancestral é corporal, refletindo, assim, códigos tribais e culturais na produção artística atual. Além disso, as culturas moura, árabe, cigana, negra, indígena e europeia estão presentes na tradição popular. Dessa forma, a arte permite tanto a recriação de sentimentos quanto a reflexão crítica sobre a realidade. Segundo ele, “essa emoção e o senso crítico provocam mudanças – individuais e coletivas.”
Além do mais, a produção cultural contemporânea brasileira está profundamente ligada ao afrofuturismo, um movimento estético e político centrado no protagonismo negro. Nesse cenário, artistas brasileiros ganham reconhecimento por suas contribuições: Criola, com murais na França e Bielorrússia, e Alê Santos, autor do romance “O Último Ancestral”. Esses trabalhos mostram claramente como a reconstrução da ancestralidade impacta tanto o presente quanto o futuro.
O Impacto nas novas gerações
Lilica Rocha, uma cantora de sete anos nascida em Salvador (BA), exemplifica claramente esse impacto. Ela lançou dois audiobooks, nos quais mistura ritmos de forma lúdica em suas músicas. Além disso, sua regravação da canção “Tigresa” encantou tanto o público quanto o próprio Caetano Veloso. Lilica afirma que “o futuro não começa sem resolver o racismo”, e, por isso, seus sonhos incluem também celebrar o Carnaval em grande estilo.
Construindo futuros incríveis
Em suma, a reconstrução da ancestralidade, que antes funcionava apenas como um meio de suportar o presente, agora também serve para construir futuros brilhantes para mentes negras. Além disso, estímulos artísticos despertam nos pretos e pretas uma nova percepção de possibilidades infinitas, tanto para si mesmos quanto para seus descendentes.