Por Paula Sales
A diversidade nas empresas estimula a inovação ao favorecer a troca de ideias entre pessoas com diferentes vivências. Essa troca gera produtos e serviços mais alinhados com as necessidades de uma parcela maior da sociedade, o que, por sua vez, se reflete em mais negócios para a organização. Para reforçar essa visão, um estudo feito pela McKinsey em 2015 apontou que empresas com diversidade de gênero e étnica costumam ter uma performance financeira 25% acima da média do mercado.
Diversidade nas empresas e o desafio da liderança negra no Brasil
Apesar da importância da diversidade nas empresas, especialmente em termos de inclusão racial, o Brasil ainda enfrenta um grande desafio. Embora 56% da população seja negra, apenas 4,7% dos cargos de liderança são ocupados por pessoas negras, segundo uma pesquisa do Instituto Ethos. Rachel Maia, CEO da RM Consulting e conselheira administrativa, destaca que, embora muitas empresas queiram aprender sobre diversidade, os índices mostram que ainda há um longo caminho a percorrer. Priorizar a representatividade não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas também uma oportunidade de negócio.
Letramento social: entendendo o impacto das diferenças
Rachel também explica que o processo de letramento social envolve entender que as empresas operam em sociedades onde mudanças culturais, sociais, econômicas e políticas impactam as práticas corporativas. Ter pessoas diferentes em um mesmo ambiente proporciona vários pontos de vista para uma mesma situação, o que é essencial para o desenvolvimento de um negócio. Essa pluralidade amplia a capacidade de inovação e embasa a criação de ações afirmativas voltadas à empregabilidade de grupos historicamente minorizados, como PcD, negros, LGBTQIA+ e mulheres.
Diversidade e inclusão: uma jornada contínua
Segundo Rachel, diversidade e inclusão não são resultados finais, mas sim uma jornada contínua. Elas precisam ser fomentadas de maneira sistemática e consistente. Ela destaca que, ao priorizarmos a representatividade nas empresas, estamos apenas começando a possibilitar que grupos minorizados também tenham acesso às oportunidades. A presença de pessoas diversas em um ambiente comum favorece o acesso a múltiplos cenários, respostas criativas e soluções inovadoras, que são essenciais para a continuidade de qualquer empresa.
A Mudança necessária: compromisso com a inclusão
Por fim, Patrícia Santos, executiva de RH e fundadora da Empregueafro, resume a questão: “Esse é um trabalho que precisa ser feito de dentro para fora”. Ela enfatiza a necessidade de que as empresas estejam dispostas a mudar processos que, historicamente, têm sido racistas e excludentes para a população negra. Além disso, Patrícia recomenda que as empresas busquem consultorias especializadas para auxiliar na implementação de programas de inclusão específicos.
UMA SOBE E PUXA A OUTRA
Nessa jornada transformadora, ações afirmativas em programas de estágio ou de trainees são importantes, mas não são as únicas possibilidades. Como as empresas atuam no modelo top-down (de cima para baixo), é necessário que a diversidade esteja presente também — e principalmente — nas posições tomadoras de decisão.
Este é o foco do Conselheira 101, programa que incentiva a presença de mulheres negras em conselhos de administração, ampliando o networking e o ferramental técnico para preparar executivas para cargos de liderança. “Um dos pontos que a gente desmistifica no programa é o da inexistência de profissionais negros de alta senioridade para ocupar cargos de diretoria e vice-presidência”, ressalta Lisiane Lemos, cofundadora do Conselheira 101. Ela garante que a iniciativa é uma ação afirmativa focada em mulheres negras que, além de oferecer um ferramental que ajuda a desenvolver seus potenciais, promove networking para que elas possam entrar em conselhos de administração.
“Nosso enfoque é no fortalecimento da autoestima da nossa população negra quanto a cargos de liderança. Existe essa barreira e não há como negar. E o caminho é o das formações para desafiar o status quo e mostrar que, independentemente do lugar onde a gente se formou, o que faz sentido são os conhecimentos técnicos e empíricos que a gente traz para a mesa. E saber posicionar isso também vai ser muito importante”, declara Lisiane.
A representatividade também acaba por estimular quem está começando a carreira a pensar em possibilidades de desenvolvimento que poderiam ser consideradas inalcançáveis. Este ano, na 5ª edição do programa Executivas do Amanhã da EXEC, consultoria especializada na contratação de executivos de alta gestão, todas as mentoras são executivas negras de sucesso.
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