Por Fernanda Costa
Os benefícios da inclusão e da diversidade nas startups são evidentes. Além da questão puramente social, empresas de inovação estão percebendo que a promoção da multiplicidade de perfis no quadro de colaboradores e nos cargos de liderança é uma fonte de vantagens competitivas e de crescimento.
Diversidade como Vantagem Competitiva
A composição étnica e cultural variada na liderança e entre colaboradores alavanca a performance comercial e o desenvolvimento de soluções mais completas. Como resultado, uma organização diversa gera um olhar mais amplo sobre produtos e serviços. No entanto, o que é positivo pode se tornar tóxico se não observarmos como essa multiplicidade de perfis impacta a empresa.
Tatiana Santarelli, fundadora da startup Team Hub, ressalta que a diversidade nas startups precisa estar na agenda das lideranças. Sua empresa em Belo Horizonte mapeia o comportamento dos colaboradores para diagnosticar a cultura organizacional, mostrando-a em forma de gráfico. Segundo Santarelli, “o líder é modelador da cultura. Portanto, se ele é da diversidade, gera um ambiente de segurança e se torna referência.”
Diversidade como Cultura Organizacional
Mayara Paes Leme, fundadora da startup Troca, destaca que, quando investidores começaram a considerar a diversidade das equipes, os empreendedores brasileiros rapidamente perceberam que investir na pluralidade de realidades no quadro de colaboradores é lucrativo. A empresa de Paes Leme, que capacita jovens, sobretudo mulheres negras, está atualmente passando por um segundo processo de aceleração. Para ela, “a diversidade tem de se tornar cultura, o que envolve não apenas a aquisição de talentos, mas também a manutenção desses profissionais.”
De acordo com uma pesquisa da plataforma Indeed, realizada em parceria com o Instituto Guetto, 47% dos profissionais negros não se sentem pertencentes nas empresas em que trabalham, e 60% relataram ter sentido algum tipo de discriminação no ambiente profissional. Paes Leme observa que “as ações de diversidade são pontuais. Em vez disso, a diversidade precisa estar no plano estratégico.”
Representatividade e Inovação
Além disso, a falta de referências diversas em cargos de liderança também afeta a contratação de equipes diversas. Paes Leme afirma que “quando a pessoa olha para seu chefe e vê alguém muito diferente dela, é difícil se sentir parte da empresa. Representatividade importa.”
Por outro lado, o mercado de tecnologia atrai profissionais devido aos valores de contratação. Felipe de Morais, CEO da AfroPhyton, destaca que “o salário inicial de um desenvolvedor é rentável e pode mudar a realidade social de uma pessoa rapidamente.” A AfroPhyton, que conecta profissionais negros de tecnologia com empresas, está em processo de aceleração, orientado por Maitê Lourenço, fundadora da BlackRocks. Segundo Morais, “grupos com diversidade são mais criativos. Se você tem pessoas do mesmo trilho, com a mesma formação, perde em soluções.”
Superando Desafios no Empreendedorismo Negro
Por fim, o empreendedorismo negro enfrenta desafios únicos. Carla Cristina, fundadora da startup Parças, que promove a inserção de pessoas em situação de vulnerabilidade no mercado de trabalho, destaca que “71% das equipes que avaliam investimentos não têm negros na composição.” A Parças se destacou ao levar mentoria e coworkings para a periferia de São Paulo. Cristina ressalta que “a oportunidade de falar com empreendedores pretos me fez enxergar meu lugar, que antes parecia distante.”
Além disso, Cristina defende que incentivar a diversidade, tanto em investimentos quanto na atração de talentos, requer políticas públicas. “Há muitas pessoas capacitadas, precisamos descobri-las e oferecer-lhes oportunidades,” afirma.
47% DOS PROFISSIONAIS NEGROS NÃO TÊM O SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO NAS EMPRESAS QUE TRABALHAM E 60% SENTIRAM ALGUM TIPO DE DISCRIMINAÇÃO NO AMBIENTE PROFISSIONAL
(pesquisa plataforma de empregos Indeed + Instituto Guetto)
