Empreender nos negócios, investindo tempo, dinheiro e sonhos em uma ideia inovadora, vai muito além de uma simples opção para grande parte da população negra brasileira. Em um cenário de condições cada vez mais adversas de renda e empregabilidade, o empreendedorismo negro surge como uma resposta necessária.
No entanto, poucos dados estão disponíveis sobre o ecossistema das startups lideradas por pessoas negras ou que têm a diversidade como foco. Em março de 2021, a BlackRocks, uma aceleradora de startups de pessoas negras, apresentou um relatório em parceria com a Bain & Company. Esse relatório traçou um panorama do setor e propôs medidas práticas para fomentar a diversidade racial no setor de inovação no Brasil.
Crescimento do empreendedorismo Negro no Brasil
Entre 2016 e 2019, o total de startups no país cresceu de 6,2 mil para 13,6 mil empresas. Em 2019, investidores aplicaram R$ 11 bilhões em startups brasileiras, quatro vezes mais do que três anos antes. No mesmo ano, cinco startups brasileiras alcançaram a categoria de unicórnio, com um valor de mercado superior a US$ 1 bilhão. Apesar desse crescimento, o perfil dos líderes dessas startups ainda é predominantemente de homens brancos que tiveram acesso a educação e estrutura financeira estáveis. Segundo Maitê Lourenço, fundadora e CEO da BlackRocks, “é hora de investir em diversidade e tecnologia para as startups negras”.
Distribuição de investimentos e oportunidades
Além disso, o grande desafio para tornar o setor de startups mais diverso é justamente distribuir os investimentos de forma que empreendedores negros tenham melhores oportunidades nas fases iniciais do negócio. Apesar das limitações de recursos e do tempo disponível, muitos empreendedores negros estão, ainda assim, obtendo bons resultados. Para cada R$ 1 de renda de uma pessoa não negra com o mesmo nível de escolaridade, uma pessoa negra tem, conforme o relatório, renda de R$ 0,69.
Feira Preta: um marco do empreendedorismo negro
Ana Paula Xongani, estilista e criadora do Ateliê Xongani, observou de perto o crescimento do empreendedorismo negro nos últimos anos. Um marco importante nesse cenário foi a Feira Preta, que, desde sua primeira edição em 2002, conseguiu, portanto, sistematizar e organizar novos conceitos e práticas para quem estava iniciando um negócio. O evento, que começou com 40 expositores e 7 mil visitantes, tornou-se, ao longo dos anos, o maior evento de empreendedorismo negro da América Latina.
Iniciativas para fortalecer o empreendedorismo nas periferias
A Feira Preta não é apenas um evento, mas uma plataforma que agrega projetos como o Afrohub e o Afrolab, que apoiam o desenvolvimento de estratégias de negócios e a formação de empreendedores. Além disso, a Casa Preta Hub, localizada no centro de São Paulo, oferece um espaço para inovação e desenvolvimento de projetos.
Educação como estratégia para o sucesso
Investir tempo em educação é essencial para reduzir as diferenças criadas pelos privilégios da branquitude no início das startups. O Liza Simões, um fundo de investimentos, atua para mitigar essas diferenças e aumentar as chances de sucesso das startups em favelas e periferias brasileiras. Essa iniciativa busca não apenas distribuir conhecimento, mas também promover uma nova cultura de diversidade no mundo corporativo.
Revolução econômica nas favelas
Finalmente, os benefícios de iniciativas como o empreendedorismo negro nas periferias vão muito além dos resultados financeiros individuais. Reginaldo Lima, sócio fundador do Investe Favela e co-fundador do G10 Favelas, destaca que as startups de favelas estão crescendo e, consequentemente, vão revolucionar a economia. Com um PIB já chegando a R$ 189 bilhões, essas iniciativas trazem consigo, portanto, uma importante carga de diversidade e reparação histórica.