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Afrofuturismo e Ancestralidade com infinitas possibilidades

Por Fernanda Costa

O ponto de partida da história da população negra no Brasil, principalmente aquela contada nos livros escolares, é a escravidão e a negação de identidade. Mulheres, homens e crianças foram brutalmente trazidos a um continente desconhecido. E aqueles que conseguiram pisar em terra firme (muitos morriam, todos sabemos, em viagens insalubres e perigosas), perderam nome, sobrenome, origem e família. Era uma prática comum entre escravocratas não permitir numa senzala pessoas que falassem a mesma língua ou que viessem da mesma cultura. Um apagamento proposital da ancestralidade.

A alternativa à realidade violenta era resistir. Inclusive de forma natural — a pulso, por assim dizer, o inconsciente coletivo —, façanhas de outras terras e tempos, com heróis, heroínas, reis, rainhas e divindades de pele preta, acabavam por ocupar o imaginário daqueles que não guardavam qualquer recordação: negros e negras nascidos brasileiros, que não tinham para onde voltar e, socialmente ou legalmente, não eram cidadãos, não eram brasileiros — eram escravizados. 

Recriar o passado nunca vivenciado era o único conforto para seguir em frente, na tentativa de criar um futuro mais igualitário e justo, em que as vidas negras realmente importam. Com certeza, o grito forte dos Palmares ecoou e ecoa ainda nessa reconstrução da memória histórica de pretos e pretas.

Para o arte-educador alagoano Cláudio Antônio, 56 anos, professor da Escola de Dança da Universidade Federal de Alagoas, não existem avanços sem olhar para o passado. “A arte”, observa Antônio, “dá a possibilidade de escolher qual história queremos contar.” O ser brasileiro é o resultado de um caldeirão cultural e a escolha pela narrativa é uma forma de restabelecer o espaço social e o empoderamento. “A memória ancestral é corporal”, explica o pesquisador, descrevendo as possibilidades de reconhecimento dos códigos tribais e de culturas do passado na produção artística atual. “As culturas moura, árabe, cigana, negra, indígena e também a europeia estão presentes na tradição popular.” Sem sobreposições, diga-se.

Cláudio Antônio ressalta que o imaginário artístico é tanto um espaço para recriar sentimentos quanto para estimular uma reflexão crítica sobre a realidade. “Essa emoção e o senso crítico provocam mudanças – individuais e coletivas.” A educação é definitivamente o fio condutor da transformação social. “É preciso ter o conhecimento corporal desse passado, e também técnico.”

Técnica e inovação não faltam à produção cultural contemporânea brasileira, ligada à temática afrofuturista — que é o movimento estético e político a partir da perspectiva e do protagonismo negros. Artistas brasileiros são reconhecidos, dentro e fora do país, em diversos campos: as texturas baseadas nas subjetividades das mulheres pretas presentes no muralismo da mineira

Criola, artista visual com murais pintados na França e na Bielorrússia; a escrita ágil, com histórias de ficção científica e fantasias afro-americanas do escritor paulistano Alê Santos — que lançou seu romance O Último Ancestral por uma grande empresa do mercado editorial mundial.

Se a reconstrução de uma ancestralidade é capaz de gerar resultados no presente e no futuro, o impacto disso pode ser claramente visto na cantora.

Lilica Rocha, de sete anos. “Vejo crianças de todas as cores na televisão. Gosto assim, bem colorido”, defende a menina, nascida em Salvador (BA). Ela lançou dois audiobooks, Zacimba, a menina que encrespou a história e Zacimba e o sonho de encrespar o futuro, com músicas dela e outras compostas com os pais. Os dois livros virtuais narram as façanhas fabulosas de uma criança, filha de uma cientista da NASA. A artista mirim mistura ritmos de maneira lúdica — e isso tem cada vez menos influência dos pais. Em seu álbum de estreia, a faixa Black power eu sou exalta a realeza da cultura preta.

Mas foi com a regravação da canção Tigresa que Lilica encantou as redes e o próprio autor, Caetano Veloso. “Tem uma música também que canto uma parte em iorubá”, orgulha-se. Para ela, o futuro não começa sem antes resolver o racismo. “Tem de resolver agora que todo mundo é igual.” A ambição de Lilica não para por aí. “Sonhei que estava no Carnaval, em cima do carro Navio Pirata, do Baiana System, toda vestida de arco-íris e com um chifre de unicórnio. Quando eu subir no trio você vai lá me ver?”, ela graciosamente pergunta.

A reconstrução da ancestralidade e suas histórias espetaculares e fabulosas, antes feita para suportar o presente, agora realiza o papel de construir futuros incríveis para mentes negras.

O despertar dos códigos ancestrais é feito por estímulos artísticos que inspiram em pretas e pretos uma percepção para possibilidades infinitas, a eles próprios e a seus descendentes.

Carreira Preta: Consultoria de Diversidade e Inclusão Étnico Racial

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